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Vadiar por aí

Vadiar por aí

24
Jun25

Meo Kalorama, Parque da Bela Vista, 19-21 Junho

Luís Baiona

O meu Kalorama deste ano começou com Capital da Bulgária, banda da Sofia Reis que encanta o público com a sua honesta simpatia e boa vibe, tendo apresentado o seu novo single “Morangos” no final com a distribuição de morangos frescos.

Seguiu-se o concerto de David Bruno, que já conhecia de Conjunto Corona e do seu trabalho com o Mike El Nite, também convidado no espectáculo, que fizeram a festa debaixo do calor que o palco principal proporciona a esta hora, com muita interação com o público e com algumas músicas e refrões com o micro cedido a quem não arredou pé, sob a batuta deste enorme entertainer.

Os Cara de Espelho, que já conhecia ao vivo, são uma super-banda composta pelo Pedro da Silva Martins (Deolinda), a cargo das composições, Luís José Martins (Deolinda), Nuno Prata (Ornatos Violeta), Carlos Guerreiro (Gaiteiros de Lisboa), Sérgio Nascimento que toca com muitas outras bandas e artistas e a voz da Mitó Mendes (A Naifa), com uma sonoridade única que combina a tradição musical portuguesa com uma abordagem contemporânea e experimental patente nos instrumentos criados pelo Carlos Guerreiro.

A primeira banda internacional a pisar o palco do festival foi o estado-unidense Father John Misty, que o João, companheiro de longa data, já tinha visto e do qual apenas conhecia o seu indie rock e folk, com um espetáculo envolvente, subtil e profundamente emocional, conquistando o público pela força das suas canções e pela presença contida mas magnética, interpretadas com elegância e domínio vocal absoluto, de quem não precisa de artifícios ou produção exuberante para apresentar um concerto memorável.

            Os Pet Shop Boys, duo londrino e cabeças de cartaz do primeiro dia do festival não deixaram os créditos por mãos alheias confirmando o seu estatuto, contagiando o público com melodias e ritmos synth pop que marcaram os anos oitenta.

            O encerramento da primeira noite coube aos Flaming Lips, com o recinto mais despido de pública, no seu regresso a Portugal pela primeira vez em mais de dez anos, para um concerto integrado numa digressão especial em que estão a tocar na integra o disco de dois mil e dois, Yoshimi Battles the Pink Robots, que em nada desiludiu os presentes que respondiam de sorriso aberto às solicitações do vocalista Wayne Coyne não permitia qualquer momento de silêncio, mesmo que este fosse de contemplação e júbilo desta aclamada banda de rock alternativo dos Estados Unidos da América.

            O arranque do meu segundo dia no Kalorama foi ao som dos Heartworms, banda inglesa que sigo há algum tempo e que combina pós-punk, trip-hop e tons góticos. A vocalista Jojo Ormev, envergando uma túnica negra e apoiada por um baterista, ofereceu um espetáculo visual e sonoro intenso, numa entrega teatral e vocal poderosa, mostrando um poder em palco surpreendente, com arranjos densos e atmosferas sombrias, provando ser um nome emergente a seguir no circuito europeu de música alternativa.

            Seguiram-se os Máquina., um trio ruidoso, com uma forte influência no industrial e techno, abusando de riffs sujos e estrondosos e delays distorcidos, que surgem num ritmo desenfreado acompanhando uma bateria motorizada e letras gritantes, que já não são novidade para mim e que provocaram uma bela nuvem de pó.

Os Best Youth são um duo do Porto formado por Ed Rocha Gonçalves e pela Catarina Salinas e as suas canções em inglês cruzam o indie rock e o dream pop electrónico bem dançavel, tendo-se afirmado ao longo dos últimos anos como um fenómeno particular no cenário musical português, nunca extravasando muito os limites daquela música que gosta de se manter à margem, apesar de pop.

Os Model/Actriz, banda de Boston, subiram ao palco, quando o sol ainda marcava presença, para dar uma lição de como fazer um concerto impactante sem precisar de recorrer a fogos-de-artifício, graças ao seu carismático e enérgico vocalista, Cole Haden, que subiu ao palco envergando uma pequena mala e um copo de vinho na mão e a instrumentistas que arranjaram maneiras pouco ortodoxas mas eficazes, de usar os seus instrumentos, impressionando por conseguir manter uma brutalidade noise rock mas com uma sensibilidade pop contagiante.

Os nova-iorquinos Scissor Sisters apresentaram o espetáculo mais divertido do festival tornando o recinto numa pista de dança a céu aberto. Sem papas na língua, todos os preconceitos ficaram de fora para dar espaço a uma celebração desinibida e alegre, repleta de música com influências de disco e funk norte-americano, sempre com boa disposição e uma dose considerável de humor.

Róisin Murphy, artista irlandesa que julgava não conhecer mas que vi enquanto vocalista da banda Moloko, apresentou um excelente concerto de pop electrónica inovadora marcada pelo seu estilo excêntrico e vanguardista, em que nada é fruto do acaso, mudando o seu figurino a cada música, visivelmente também uma diva no mundo da moda.

O meu último dia de festival começou com os Yakuza, também na companhia do João, do Henrique e mais tarde da Rita, para ver uma banda que já me tinha despertado o interesse, confirmando serem um dos principais nomes da cena de novo jazz português, em que este estilo, ganha uma nova vida com influências psicadélicas e de stoner rock, sendo um casos sério da música portuguesa e valem a pena ver onde quer que estejam a tocar, seja numa sala escura e intimista ou sob o sol abrasador do Parque da Bela Vista.

No mesmo palco, ainda de dia mas com uma audiência mais composta, atuaram os canadianos Badbadnotgood, nome maior do novo jazz que se apresentaram em formato de sexteto, para mover uma multidão e deixar qualquer um a dançar, atendendo aos constantes incentivos dos músicos, em particular do baterista Alexander Sowinski, porta-voz do sexteto, para fazer a festa, deixando ainda elogios à atuação dos Yakuza.

Também no palco San Miguel atuaram os Royel Otis, duo australiano a provarem serem a próxima sensação do indie rock, com uma energia contagiante e cheios de boa disposição.

A fechar este palco esteve Branko, a mostrar que os artistas portugueses não servem só para abrir o palco às cinco da tarde, com um set vibrante de eletrónica global com batidas quentes e fusão de sons onde se cruzaram influências afro-lusófonas e brasileiras com atmosferas eletrónicas modernas, agarrando a plateia e prolongando o espírito de celebração.

O festival terminou com Damiano David no palco principal, conhecido como a voz e a energia dos Måneskin, abraça agora uma sonoridade distinta, mais próxima da pop e das baladas, abrindo o coração e expondo vulnerabilidades, explorando o amor e a identidade.

Todos os concertos aqui relatados foram vistos na íntegra, com presença nas primeiras filas sempre que possível. As fotos são cortesia do João.

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